domingo, 5 de maio de 2013

Porque também foste, és e serás sempre uma mãe para mim...

Lembro-me de chegar a casa dela ainda embrulhada numa mantinha, de pijama vestido.
Ao entrar na cozinha, ainda ao colo, sentia o cheirinho do café com farinha e a sensação de conforto era ainda maior...cheguei a casa da avó.
A minha infância passada naquela casa, na tua casa avó, será das coisas que nunca esquerecei na vida.
Tenho memórias tão vivas de ti e daqueles tempos.
Adorava vê-la a ler. Os olhos grandes atrás do vidro das lentes. O murmuro que se ouvia quando estava a ler.
Os recados que me deixava quando tinha de sair e eu ainda estava a dormir. Recados numa letra redonda, linda, recortada, deixados sempre no mesmo sítio para ter a certeza que os via e não ficava preocupada. Com erros de quem não frequentou muito tempo a escola, mas que faziam ter a certeza que é uma grande mulher por mesmo assim saber escrevê-los.
Chegava a casa com o pãozinho fresquinho, fazia o café e chamava-me. Comia com gosto, com um sorriso nos lábios, enquanto a observava na lide da casa, à volta do fogão, o cheirinho a sopa...
A sala cheirava a petróleo. Petróleo das toalhas e panos que bordava.
Como aquela mulher gostava de bordar.
Seguia os desenhos azuis (daí o cheiro a petróleo) minuciosamente com aquelas mãos de fada.
E fê-lo até os olhos a começarem a trair, até as linhas ficarem de tal forma impercetiveis que já não era capaz de as seguir. Fê-los até as mãos lhe começarem a tremer devido à estúpida da doença que a ataca.
E deixou toalhas e panos, que seriam para os netos mais novos, imcompletos. E a tristeza que aquilo há de ter sido para ela. Mas não conseguiu terminá-las.

Os meus dias passados naquela casa, ficarão sempre comigo.

Hoje, continua a adorar a casa cheia, embora já não esteja na sua.
E hoje não poderia passar o dia sem ir vê-la. Sem lhe dar um grande beijinho.
Porque ela foi, é e será sempre a minha segunda mãe...




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